Musical “Descendentes de Ninguém” emociona público no NEATI-UFR com reflexão sobre ancestralidade e identidade
- Coletivo Patologia Cênica
- 15 de jun.
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No último dia 14 de junho, o NEATI – Núcleo de Estudos e Atividades da Terceira Idade da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) foi palco de uma noite marcante para o teatro musical local. Com apoio da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (SACEL) da universidade, o espetáculo “Descendentes de Ninguém” reuniu cerca de 80 pessoas em uma apresentação gratuita que emocionou o público e promoveu uma profunda reflexão sobre ancestralidade, identidade e memória coletiva.
Dirigida por Apolo Dracullia, a peça uniu teatro, música e elementos simbólicos africanos em uma encenação sensível e potente sobre o legado de um povo que existia muito antes das correntes da escravidão. O espetáculo tem como eixo o conceito de Sankofa, ideograma do alfabeto Adinkra que significa "voltar ao passado para construir o futuro", valorizando não apenas as dores históricas, mas também as conquistas, reinos e heróis que compõem as raízes do povo africano e afrodescendente.

Em cena, a filha Dahya (interpretada por Deborah Cristina) e o pai Luiz (Marcos Leque) vivem o conflito entre o esquecimento e o reencontro com a própria história. Enquanto Luiz se mostra cético e preocupado com o futuro da filha, Dahya busca nos livros e na imaginação uma reconexão com suas origens.
Essa jornada os leva ao encontro das figuras míticas de Al Kahina, uma rainha guerreira vivida com imponência por Nathânia Carbonato, e Shaka Zulu, interpretado com força e presença por João Castrequini. Essas figuras ancestrais conduzem os irmãos — e o público — a uma reconciliação com a própria história.
No limiar entre o real e o mítico, surgem ainda Baob, a entidade do esquecimento (Nicolas Jacoby), e sua Sombra (Ronald Robert), que tensionam o apagamento histórico com cenas de impacto visual e simbólico.
Com duração de aproximadamente 1 hora, o musical apostou em uma linguagem poética e sensorial, com destaque para o uso expressivo da música e da corporalidade dos atores. A encenação propôs um teatro de resistência e reconstrução simbólica, celebrando a grandiosidade das culturas africanas pré-coloniais, muitas vezes ignoradas nos livros didáticos.
Além da temática profundamente relevante, o espetáculo também se destacou pelo trabalho coletivo e pelo compromisso com a educação artística. A escolha do NEATI-UFR como espaço de apresentação reforçou o papel da universidade como agente cultural e formador de consciência crítica.
“Descendentes de Ninguém” não apenas contou uma história, mas fez um chamado: para olhar para trás com orgulho e construir o presente com raízes firmes.








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